domingo, 26 de outubro de 2014

:: Crônica: Inocencia Perdida :: chegada à Titanium City

 
:: Crônica: Inocencia Perdida :: chegada à Titanium City
Por: Dora Quixote
Raça : Bastet
Tribo: Bagheera
Vícios: Cigarro, Literatura e limpeza
Qualidade: Sabedoria, inteligência e asseio
Defeito: Prepotência, ironia e arrogância



  Dora levantou-se de seu canto se afastando de sua gigante e pesada mochila que consigo carregava cheia de roupas, mantimentos, alguns produtos de beleza e higiene, sua adaga, canivete, canetas, seu bloco de papel, alguns livros, seus dispositivos eletrônicos como celular, notebook, ipad, tablete, gps, um grande dicionário de várias línguas dominadas pela felina e seu precioso dispositivo de choque elétrico, se pôs de pé esticando os braços por sobre a cabeça e se espreguiçando, respirou fundo e languidamente foi caminhando até a porta daquela choupana abandonada, passando por sua moto estacionada do lado de fora e continuando a caminhar. A noite fechada, o assobio do vento por entre as árvores, o silêncio da escura e fria noite em Titanium. Caminhando em silêncio a gata parou a margem do mar e ergueu os olhos para a lua, aquela que sempre a fascinara. Respirou fundo novamente e deixou que o corpo relaxasse sobre algumas tabuas velhas que improvisavam um cais quebrado naquelas terras. Ainda com os olhos presos a lua deixou que sua mente vagasse para os acontecimentos que a haviam levado até ali novamente.
  X-__________________________Flashback_________________________________X
   Dora nascera nas terras de Utopia, uma cidade colorida e cheia de vida, cidade essa que desaparecera... Ainda muito pequena Dora viu seu mundo ruir e todas as suas certezas virarem incertezas em segundos. Fora criada em uma família completamente humana, bondosa e amorosa, fora bem educada e sempre bem ensinada. Sabia como caçar e pescar como seu pai, sabia lutar como seus irmãos ou até melhor tendo adquirido perícia em armas brancas ainda bem cedo e sabia cozinhar e cozer como sua mãe, era uma pessoa feliz e assim foi até o seu aniversário de 16 anos.
  Dora estava linda em seu vestido novo de cor negra, os cabelos da mesma cor soltos e brilhosos se perdiam no tecido macio do traje que lhe cobria de forma graciosa e marcava suas curvas já bem pronunciadas de adolescente desenvolvida. Os olhos sempre adquiriam um brilho especial quando excitada, ansiosa com alguma coisa, e seu baile estava para começar.   
  Uma explosão, passos, correria, um clarão, gritos, choros, uma mão, duas, três, escuridão, fumaça, agonia... era tudo o que ela podia se lembrar do dia em que fora separada de sua família.   A cidade ruía como que se desaparecesse em um buraco negro, criaturas estranhas se escondiam nas sombras, corpos se amontoavam pelas ruas, casas eram destruídas como se em um piscar de olhos, os gritos e gemidos eram abafados pelo som de explosões e de laminas colidindo como se uma grande guerra ocorresse. Então em um segundo como se o tempo estivesse suspenso ela o viu, os olhos brilhantes, a espada em punho e um sorriso de dentes perfeitos e brancos, gotas de suor desciam pela face que a encarava e então não viu nada mais. Ao acordar Dora chamara por seus pais mas somente o silêncio lhe respondera, e a imagem daquele ser em sua mente lhe dizia que algo estranho acontecera, um eco do vazio que a rondava dentro de algo como um caminhão ou um veículo qualquer de transporte grande e pesado, Dora se sentara com rapidez enxergando pela escuridão e observando formas encolhidas no canto, alguns gemiam como se machucados e outros apenas estavam recostados, atentos e a olhavam com preocupação. Dora passou a mão na testa e sentiu o sangue quente correr por entre seus dedos, os olhos, a espada, as explosões, sua casa? O que era tudo aquilo?
  Dora fora salva por seus pais biológicos e agora estava sendo levada para conhecer sua origem e a história de seu povo, aconselhada a esquecer o passado de forma absoluta e se concentrar apenas no presente e no futuro. Sem escolha a gata fez o que lhe era pedido e aos poucos foi aprendendo os ofícios e segredos de sua raça.
   ______________X___Fim do flashback____X_______________________
   Dora sentia o frio das pedras de encontro a sua coxa nua, os olhos embaçaram com as recordações porém logo voltaram a seu foco inicial, a lua e o que ela poderia reservar aquela gata até então solitária. Com um suspiro profundo deixou os olhos correrem a seu redor e abranger a escuridão, as nuvens densas que cobriam o horizonte, o cheiro pútrido, o lodo, a lama, as construções destruídas ao redor com pedras que se amontoavam formando formas estranhas, misteriosas e se fundiam a terra de cor escura que cobria o chão daquele lugar e de todos os lugares a sua volta. Dora olhou o mar a sua frente ou o que conseguira ver dele também escuro, tenebroso. Os segredos daquele lugar, alguns que envolviam a sua família e tudo que fora perdido naquelas terras, vidas deixadas para trás, histórias esquecidas e não contadas, segredos enterrados, criaturas surgindo sem precedentes, uma carta de teor desconhecido e um mistério a ser desvendado. Era isso que Dora buscava, um encontro com as respostas de tantos enigmas que adentravam em sua mente e se embaralhavam em pensamentos, conjecturas, ideias, possibilidades. E agora possuía companhia, uma mulher com o latente sangue da mais pura raça de khan que se despunha a liderar e organizar um pequeno covil improvisado, um gato louco que acusava todos de serem endiabrados e parecia querer matar qualquer um a qualquer hora, duas descuidadas bubastis que se alimentavam em qualquer lugar sem nenhum pudor e mais alguns felinos que conseguia sentir a aproximação.
   Dora se perguntava o que podia mais aquela terra lhe reservar e o que poderia descobrir se ali estivesse. Parecia que a noite gritava agudo transmitindo medo e agonia a todos aqueles que se prestassem a escutá-la. O silencio que calava vozes desesperadas, corpos despedaçados e um sonho antes sonhado por muitos e que agora mais se assemelhava a um pesadelo real. Após anos na estrada, Dora ainda se surpreendia em como escuro, frio e amedrontador poderia ser aquele lugar que hoje recebera o nome de Titanium e que novamente era sua morada.

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